O gigante do (meu) confinamento
#4
«A subjectividade
digital» de que fala José Gil num ensaio escrito para o jornal
Público trouxe ao meu confinamento, faz hoje precisamente 30 dias, a
reflexão sobre o absurdo plástico da contemporaneidade,
materializado na incapacidade já desenhada a partir dos anos 90, de
nós, humanos, permanecermos quietos na acção, silenciosos na
linguagem, activos na relação.
É este adentrar que
ocupa o meu «combate» e inquieta o meu olhar. Procuro na pintura
esse gesto contemplativo e assim fixo o olhar na tela onde o meu
«gigante» desenha as linhas do tempo e do espaço. Quieta mas
cansada, com os ossos da resiliência partidos, o olhar fixo no
desejo das particulas habitadas por Ti, e a pele seca e gretada
destes ventos contaminados.
Não há «subjectividade
digital» neste adentrar. Pelo contrário, adentrar significa
subjectividade carnal, lugar confinado ao totalmente preenchido,
mesmo pelas cores opacizadas da inteligência, que nunca me deixam
ver claramente visto, porque poesia não é (só) inteligência, mas
sobretudo silencio do Verbo adentrado ao consentimento.
«No tempo e na
eternidade.// Ou seja: o futuro da própria eternidade.»
#tempocovid19
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