a gregária itinerante #5
Raul Nambora de seu nome, o “mainato” dos meus avós, para os europeus o jovem «criado» que passava a ferro, terá começado a trabalhar com a minha família entre os 15 e os 18 anos, esperou seis horas por mim no Aeroporto Internacional de Maputo, quando, trinta anos depois, regressei a Moçambique.
(Esta fotografia foi tirada imediatamente depois de nos termos abraçado)
O Raul quando me viu, pensou que eu era a minha mãe, apesar de me ter chamado “menina paulinha” e nesta ambiguidade foi falando, recordando, questionando e comentando, até que percebeu que a “menina” tinha crescido muito, podendo a dissonância explicar-se pelo facto de a “senhora” ter deixado África justamente com a mesma idade, 45 anos, sermos muito parecidas, o mesmo timbre de voz, embora, a minha aparência física nada tivesse que ver com a minha mãe, nessa idade. Quando a recordo nesse tempo vejo claramente a minha avó...
(vamos construindo, assim, o desejo de eternidade, somando as partes ao todo)
Nessa viagem fui acompanhada por três grandes amigos, a quem nunca consegui falar da minha terra, acreditando eles, quem sabe? Que a minha «estória» de vida começara, apenas, aos 13 anos, idade com que cheguei a Portugal.
dizer o quê? como? quando em 1975 passeava sozinha pelo Rossio sabia o que não podia dizer)
Foi
o meu tio Carlos Alberto Vieira, o maior fotógrafo que Moçambique
conheceu, como sempre se escreveu a seu respeito, e o seu imenso e
extraordinário património artístico, as razões deste meu regresso.
Recuperando-o, publicando a sua arte em livros de foto-jornalismo,
desejava homenagear por ele, e para ele, os meus avós, pais, todos
os tios e primos, afinal, os protagonistas heróis da sublime
aventura de reconstruir vidas aos 40, 50 e 60 anos. Foi em 1977.
Voltarei noutro texto a esses livros e a estas histórias.
Comentários
Enviar um comentário