Do improvavel #3






Esta imagem ocupou-me. Ocupar, no meu caso, significou «tomar» o tempo disponível. Não aquele que sobrou dos últimos dias. Mas a totalidade da consciência possível. «Não, uma imagem nunca vale mil palavras» pensei. O que seria desta imagem sem uma legenda? Onde a colocaria no infinito território da imaginação? Em que momento da vastidão operativa das árvores celulares chamaria Amor ao que se observa? Porque há palavras que só sabemos ler depois de ter vivido? E mesmo vivendo porque é que nem todas as palavras sabem explicar a realidade?


Esta imagem conta uma história de amor. Não percebi quem é o verdadeiro protagonista deste amor. Se o homem que vemos ou, se a mãe que não vendo, dizem-nos os jornais de todo o mundo, está do outro lado, noutro prédio, num hospital, aguardando o tempo, e ele, sabendo que a perderá do seu olhar, não podendo abraçá-la, ali fica contemplativo, olhando-a fixa e ternamente, e ela a ele, como se o amor fosse exclusivo dos dois, e não coubesse entre eles, senão, palavras grandes, por isso, não ditas, assim é o silencio, composto de palavras tão grandes, não ditas, mas fixas.


Foi assim na Palestina, em Gaza, em Julho de 2020, no tempo da Pandemia.


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