Do improvavel #1
Na década de 90 percorri
todos os conventos da Ordem dos Carmelitas em Portugal. Mesmo o de
Viana de Castelo, dito da antiga regra, clausura das clausuras, o
visitei. Homens e mulheres. Estava tomada pela ideia de que Deus
chamava-me à vida de clausura, confundida no discernimento, como
alguns mais tarde lembraram, mas, ainda assim, certa, de que Ele
nunca mais deixaria de olhar para mim, provocando incansavelmente o
desejo do meu sim.Vivia em Oeiras, Paço de Arcos, e o facto da minha
conversão ter coincidido com a decisão de acompanhar os últimos
anos da vida do meu avô, próxima dele, tornaram-me uma
frequentadora assídua da casa dos Padres carmelitas a poucos metros
da minha. Viviam apenas três sacerdotes nessa vivenda ainda hoje
pertença da Ordem. O Padre Jeremias, figura incontornável da
espiritualidade carmelita, era um deles. Provincial da Ordem, Mestre
de Noviços, confessor da Ir. Lúcia, conhecedor profundo da Santa
Madre e do Santo Padre, Teresa de Jesus e São João da Cruz,
fundadores da Ordem, dirigia espiritualmente alguns conventos, entre
eles, o do Bom Jesus de Braga, para onde me levava, conhecendo o que
ia na minha alma, com a frequência normal exigida ao confessor
daquela comunidade.
Os dois, o Padre Jeremias e eu, percorremos Portugal de lés a lés, numa Opel verde, entre um e outro Convento, ora em Viana ora em Faro, até ter-me tornado jornalista a tempo inteiro, em virtude justamente da urgência em escrever sobre a vida monástica, ainda hoje o meu grande tema, e, tendo-o feito, ousado apresentá-lo à Revista Máxima, onde comecei a trabalhar pouco tempo depois, durante vinte e cinco anos, como repórter.
A fotografia com que ilustro este post foi a minha primeira reportagem. “As Mulheres do Silêncio” editado em Abril (Páscoa) de 1992. A chamada de capa dizia «Como Vivem as Freiras de Clausura». A Revista esgotou. Nunca mais a minha vida foi a mesma.
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