Transiberiano - Viagem ao Interior a Terra - Moscovo #3

 Vai a Moscovo e perde tempo a ler, ver e ouvir, os sinais deste tempo mas não te esqueças que o que vês, ouves e lês, é uma camada superficial assente num edifício de memória, esse sim, minado por um passado cravado na alma do povo russo, guerra, sofrimento, sobrevivência, e os russos não perdoam ao europeus, sim, eles não são europeus, a traição dos aliados às portas de Moscovo, decorria o ano da graça de 1945, ano desgraçado, não fosse o frio, esse eterno inimigo que sopra da Sibéria, e Staline não teria morrido glorificado pela maior manifestação humana alguma vez registada no alcatrão da Praça Vermelha, lugar onde todos os sistemas deixaram marcas, lugar espelho dos programas políticos, das ansiedades, desejos, e sonhos do povo russo. 

 


 

A Praça Vermelha, uma das praças mais bonitas do mundo, tenho a certeza, é uma maqueta giratória da História da cidade e do país. Quando os Czares apalaçavam em S. Peterburgo, a Praça vivia calma e tranquila. Nessa altura, Moscovo era a feira das diversões de inverno e, de verão, a «praia» solarenga sem mar e areia. 

 

  

Quando Lenine ganhou a revolução, a Praça Vermelha, transformou-se no templo das paradas, da hipocrisia, uma espécie de passarele onde os cidadãos soldados e os soldados cidadãos, travestiam as roupas em gestos sincrones do pensamento único, e marchavam, ali, mesmo ao lado do Gum, o maior edifício da Praça Vermelha, antigo armazém do povo, hoje, o centro comercial mais caro da Rússia, parque de estacionamento de milhares de multimilionários da capital. Para os receber as lojas fecham as suas portas, assim faz a Gucci, a Padra ou a Hérmes. O Gum, outrora armazém do povo, recebia o povo, sempre em limpezas, cenário inventado pelo homem novo soviético, para criar a ilusão de que os produtos tinham acabado, sem nunca terem existido, e o povo ficava feliz, abastado, e a hora era de recolhimento civilizado, organizado, e por isso, limpo. 

 


 

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