Edith Stein (ainda) a Santa da minha devoção

 O (meu) processo de conversão ao catolicismo foi lento até porque uma parte importante do anúncio, esse sim, absolutamente disruptivo, energicamente avassalador, fez-se num silencio e segredo diria demolidores.

Partilhar com quem o que de fundamental e radical “Acontece” na vida quando se vive o baptismo numa família convictamente anti- clerical? Jesus chegou-me tão silenciosa e inesperadamente que tudo depois d´Ele é sempre inesperado, inusitado, mas, também, calmo e silencioso. O Padre Jeremias, frade carmelita, encarregue por Deus deste acompanhamento converso, foi o depósito do meu «segredo» e, ao mesmo tempo, o principal orientador da estrada que me levaria anos mais tarde aos sacramentos. Cedo apresentou-me Edith Stein, ainda beata, como a pessoa que devia procurar conhecer em profundidade. Nesse tempo, tudo quanto dizia o Pe. Jeremias, era lei. 

 


 

Estávamos em finais da década de  oitenta, havia pouquíssima literatura sobre esta Santa polaca que João Paulo II canonizou em 1998, tornando-a co - padroeira da Europa, sendo Edith Stein na espiritualidade carmelita, seguramente, o modelo mais próximo da jovem adulta que se aproxima do Carmelo, convertida tardia, como Edith Stein, acreditando, como ela, num destino vocacional monástico.

Li-a, por isso, devotamente entre as viagens de comboio e autocarro Lisboa – Braga, a cidade onde pensava ingressar no Convento de Clausura dali a poucos meses. Nessas leituras descobri uma mulher judia apaixonada pelo saber, filosofa, professora, assistente de Edmund Husserl, também ele filósofo, matemático e lógico, uma mulher que se apaixonou por Jesus, e de tão apaixonada deu-Lhe totalmente a vida, abandonado a sua cátedra para se refugiar na simplicidade monástica de uma freira de clausura. Depois, Teresa Benedita da Cruz, nome vocacional que escolheu quando entrou no Mosteiro, deu a vida pelo seu povo quando Hitler a manda prender e deporta-a para morrer numa câmara de gás em Auschwitz.

Ainda hoje guardo dentro da minha Liturgia das Horas a pagela plastificada que as irmãs daquele Mosteiro ofereceram à minha formação e devoção. Na altura uma pagela de Edith Stein era um objecto devocional raríssimo. E assim continua para mim.

A pagela é exactamente esta fotografia. Como em oitenta sempre que olho nela a Santa da minha devoção, penso nas palavras misteriosas que o Pe. Jeremias me disse, quase ao ouvido, «terá Edith Stein morrido em Auschwitz como judia ou como católica?»

 

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