Transiberiano - Viagem ao Interior da Terra - Irkutsk - Sibéria #4

 Há três dias que viajamos ininterruptamente de comboio. Estamos no coração da Sibéria Oriental, em Zima, para ser rigorosa no km 4934 do ramal do Transiberiano. Faltam apenas quatro horas para chegarmos a Irkutsk, depois de Moscovo, a próxima cidade visitável, a que escolhemos, a nossa opção podia ser outra, por exemplo, Yekaterinburg ou Krasnoyarsk, apenas para enumerar as maiores cidades russas, mas, os meus consultores, incluindo o agente russo que me acompanha e as minhas pesquisas, convenceram-me a escolher Irkutsk, capital da Sibéria oriental, a cidade economicamente mais estável, para o Economist, esse lugar carregado de trágicas referências históricas, não, não se pode imaginar, pensar ou reflectir a Rússia, sem a Sibéria, e muito menos sem Irkutsk, cidade resistente, até na arquitectura, onde viveram os grandes intelectuais e artistas russos exilados, os dezembristas, opositores ferozes da revolução soviética, terra propícia ao esquecimento, mas nunca esquecida, oh, tão longe de Lisboa, aqui sim, as bétulas, inundam o interior da Terra. 

 


 Quando o comboio parar na estação azul da capital siberiana, percorremos 5 185 km. Até aqui, dentro do comboio, a hora é sempre a de Moscovo, os seis fusos horários que atravessámos, sente o corpo, só o corpo, a mente, essa, vive continuamente num perpétuo fluxo de imagens, como num filme, é o sublime deste movimento, itinerário, sobre uma linha férrea, de carris planos, sempre planos, e o mar não chega, a terra não acaba, e o comboio anda, anda, apita, apita, às vezes, a uma velocidade espantosa para este lugar do mundo, mais de 120 km/hora. 


 Os viajantes que continuam o percurso até Vladivostok, a cidade russa mais oriental da Rússia continental, ali onde a terra acaba, esta massa de Terra que já vem de Lisboa, Portugal, e começa o mar do Japão, justamente no km 9 289, a última estação do Transiberiano, os viajantes, esses, vão continuar a viver imagem sobre imagem, durante mais quatro dias e quatro noites. 


 

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