O que se vê?

 



Não, o meu coração não está confinado mas a rotina “sagrada” do confinamento trouxe-me o tranquilo desespero suado deste tecido branco, às vezes molhado, com que todos os dias saúdo as frias janelas da casa, pode ser um hospital, mas não se esgota ali, habitado, vivido, inundado, onde deixámos os corpos, emparedados de tantos tormentos, cansados, magoados, feridos, submersos nas máscaras que não Te deixam ver, e Tu querendo entrar, subtilmente, pela redenção,

O que se vê?

(Serei capaz de Te ver, a Ti?)

À lenta camada dos passos grossos fixo o olhar no movimento do vento. Há vento no movimento quando os passos são dados pelos olhos, só vejo os olhos, cobertos do acrílico dos óculos, grandes, lembro-me de quando era menina, e soube ver grande, tudo parecia tão grande, até o vento, se ouvia na grande colina de areia, sim, havia uns riscos azuis, na colina, verdes casuarinas, enterradas na areia, dizem que se sonha naquele lugar,

(Serei capaz de Te ver, a Ti?)

Na circunstância aparentemente habitada pelo nada, aparentemente, é preciso que eu tome a decisão de estar contigo, em Ti, para Ti, SIM; dizer-Te desde a origem, lembro-me desse momento em que sacudi o vento, o nada é vento, e a tua brisa rápida, entrou, incendiou num dizer originariamente audível,

Sou Aquele que Sou

Não, não era Janeiro, mas naquele dia, às 18:01, num território hostil à geografia da cidade, entrei na Igreja, o que sabia eu de Ti? O curso da água do baptismo e não era pouco, onde Te reconheci no espanto, acompanhando, a menina da casuarina, os gestos litúrgicos do dia, porque não há no dia outro gesto como aquele onde Tu nos dás, assim, num pedaço de pão, eu olho, olho, dentro, porque sou pequena, tão pequena que caibo no olhar,

(Serei capaz de Te ver, a Ti?)

O saber só vem depois da experiência! 

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